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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Problemas da criação #27


Como agradar?
Por Rogério DeSouza


Quando eu era criança, adorava seriados de heróis japoneses como Ultraman e Spectreman. Na época mal notava o zíper da fantasia daquele monstro ou os fios quase invisíveis que levavam aquelas naves de brinquedo. Coisas que agora noto principalmente em produções mais atuais cuja tecnologia de efeitos evoluiu bastante.
Durante nosso crescimento, desenvolvemos uma visão diferente das coisas ou em outras palavras um senso crítico. Coisas que Ultraman e Spectreman devem enfrentar hoje em dia e você criador também.
Com a proliferação da internet a coisa só se ampliou e todos se tornaram formadores de opinião em potencial e julgam tudo que assistem ou consomem.
Se as pessoas falam mal da qualidade do papel de uma revista impressa por uma grande editora, imagine por uma revista impressa na pequena gráfica perto da sua casa. É necessária uma compensação muito grande para ser aceito por tal público.

Afinal, tudo tem que ser perfeito, impecável?

No que noto ultimamente, se não for acabara sendo, pois o senso crítico das pessoas tem se elevado muito nos últimos anos, estamos ficando mais espertos analíticos e arrogantes.
A conseqüência é que temos que correr atrás, já que detectam falhas de quadrinhos e filmes de grandes nomes, vão detectar suas limitações artísticas feitas de forma independente.
Em minha opinião a posição do crítico é confortável, pois se vale de nossa sagrada liberdade de expressão. Tal liberdade leva algumas pessoas à serem grosseiras, o que pode parecer engraçado em alguns aspectos se for levado na esportiva, mas prejudicial em outro, fomentando o ódio inconsciente a determinada pessoa que apenas faz seu trabalho.
Havia um sujeito que criticava todo mundo de maneira ferrenha, ele tipo “descia a lenha” “sem papas na língua”, ofendia sem critérios e tinha até seguidores.
Eu perguntava a amigos o que esta pessoa gostava?
O que ele fazia de sua vida?

Existem esses tipos ainda, com maior ou menor intensidade, alguns nós gostamos e outros nem tanto.
Muitos os conhecem como trolls, termo tirado de um monstro mitológico e truculento ou haters palavra referente a ódio.
Uma parcela destes formadores de opinião nos fazem sentir mal por termos um gosto diferente do dele e até indiretamente somos acusados de fomentar a ignorância pelas nossas preferências e por nosso trabalho.

Afinal “o critico sempre tem bom gosto” e usa isso para julgar o trabalho alheio.

No entanto, você deve separar do bom crítico do mau crítico. Ou seja, aquele que salienta tanto os pontos negativos como os positivos que analisa com o intuito de guiar a pessoa e não apenas fazer pouco dela, achando que com isso a tornaria uma pessoa melhor. O mau crítico salienta apenas um lado da moeda mesmo dizendo algo de bom para disfarçar, tipo “Você é bonita, mas é uma mula”.
Por outro lado não podemos passar a mão na cabeça, quando a coisa está visivelmente errada. Então desconfie dos críticos bajuladores (geralmente sua mãe ou amigos) que dizem coisas do tipo “você é bonita e perfeita”. Isso prejudica em muito sua evolução artística.

Mas qual critica você deve ouvir?

Acho que educadores são aqueles que melhor se encaixam nesse quesito. Aqueles que dizem o que está errado dão sugestão e lhe mostram o caminho que deve ser seguido para melhorar, pessoas dizem coisas como “você é bonita, mas precisa estudar um pouco mais”.
Para lidar com o público com um senso critico bem apurado (ou do tamanho do Godzilla) você deve ter um pouco de humildade e reconhecer suas limitações. Nunca responda agressivamente quem é agressivo com você, sei que ninguém tem sangue de barata, portanto se não tiver nada melhor para dizer, o silêncio é a melhor resposta (isto também vale quando falam de coisas que você gosta). Outra boa resposta que você deve dar é no seu próprio trabalho, mostre que você sabe o que esta fazendo.
E não alimente os trolls.
Particularmente quando avalio um trabalho alheio vejo os dois lados da moeda, só que não me sinto muito confortável com isso exatamente por ser criador de histórias. Creio que já fiz algum comentário jocoso deixando escapar um pouco de arrogância de minha parte e sinto por isso.
Se não gosto muito de uma coisa nunca falo dela e se uma coisa que gosto tem alguma falha eu avalio e digo como eu faria. Não sou do tipo que diz que “isto é uma merda”. Por este motivo criei a coluna “Problemas da criação”.

Daí vem a questão do texto: Como agradar?

Eu digo que não há como agradar. Algumas pessoas podem até gostar de inicio, mas basta você mudar o seu estilo ou atitude que de repente boa parte delas deixa de gostar. É assim que funciona.
Então o jeito é baixar a cabeça e ir trabalhando e evoluindo os admiradores virão no meio de muitas opiniões e não se preocupe, são apenas isso, opiniões.



Eu ainda gosto de ver Ultraman e Spectreman, mesmo com suas limitações.


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Problemas da Criação #13



Vozes ao vazio
Por Rogério DeSouza
Eu adoro ler sites de noticias de cultura pop para saber o que anda acontecendo. Como leitor de HQ, gosto de ficar por dentro das coisas, mesmo que não forem relevantes ao que eu faço ou aprecio.
Muitos desses sites e blogs tecem seus comentários sobre o que sai no mundo do entretenimento. Em sua maioria saem criticas a conduta de determinado filme, gibi ou livro. Eu mesmo já fiz muito disso aqui.
Suas opiniões influenciam (mesmo que eles não reconheçam) inúmeras pessoas que freqüentam seus blogs e sites.
Um dia parei para pensar e me fiz à seguinte questão:

SERÁ QUE OS CRITICADOS NOS OUVEM?

“É óbvio que não”, você vai dizer. Mas vamos fazer um exercício de imaginação. Se por acaso o Frank Miller ouvisse as criticas com relação ao filme “The Spirit”?
Qual a explicação que ele daria? Será que ele iria concordar ou iria fazer-se de surdo e não dar à mínima importância a opinião alheia?

Tenho lido blogs de pessoas informadas que tecem seus comentários sobre tudo. Um desses falava sobre o mercado de distribuição e a editora Panini dizendo dos erros freqüentes quanto o tipo de distribuição. No comentário do amigo, ele questiona sistema de assinaturas da editora e exemplifica algumas possíveis soluções ao problema.
O que aconteceria se a Panini respondesse a ele? O que iriam falar?

Acho que o Stallone deveria ouvir o Hell do site melhores do mundo, que falou como seria uma continuação de “Os Mercenários”. Bom, pelo menos ele deve ter ouvido alguma critica com relação ao que ele falou sobre brasileiros para responder coisa do tipo: “Desculpa, foi mal...” embora para muitos não tenha sido o suficiente.

O diretor Uwe Boll chegou a responder as criticas aos seus filmes de uma forma inusitada: No ringue de boxe, enfrentando seus detratores. O que lamentavelmente seja uma prova de sua ignorância diante do público.
Recentemente, durante a estréia de mais um filme da série que adapta muito mal o jogo Residente Evil a protagonista (a atriz Milla Jovovich) dos três seguimentos põe-se a responder as criticas voltadas a sua personagem que não existe nos games, admitindo que foi criada especificamente para o cinema para abranger um público muito maior que não conhece e não joga games. Isso não minimiza o desconforto de mudarem tanto um jogo que já tem uma linguagem cinematográfica, mas há o elo da comunicação e o reconhecimento de que a intenção não é agradar somente os fãs dos jogos que rejeitam a franquia, independente da qualidade de roteiro ou atuações.

Acho que o ser humano adulto tem tendência a ser arrogante, mesmo que por alguns momentos. Dificilmente uma pessoa aceita uma critica de inicio, Renato Aragão (Didi) nunca as ouve, pois acha que protege seu estilo de fazer humor, cujos muitos acham ultrapassado. Por um lado é bom, pois o artista tem que realmente ter liberdade criativa por si próprio, não pode ficar seguindo idéias de outros por mais que sejam boas, mas por outro lado perdem a ancora do bom senso e do mundo ao seu redor.

Como autor, procuro sempre saber o que acham do meu trabalho, pode parecer até paranóia da minha parte, mas acho importante. Talvez nem concorde com o que é dirigida a minha pessoa, no entanto leio mesmo assim e reflito sobre o assunto.
Sinceramente, gostaria que todo artista, conglomerado de entretenimento e demais serviços, vissem/ouvissem o que o público em geral fala sobre eles, mesmo não concordando, então criasse a discussão e prováveis soluções para que possamos apreciar nossos gibis, séries e filmes sem preocupações.
Acrescento aqui o que andei lendo no blog do Universo HQ sobre a opinião deles da Rio Comicon e como nos comentários da matéria alguém da organização do evento se prontificou a responder todas as questões sobre o não comparecimento das editoras, infra-estrutura, etc... Gostei muito do tom da conversa bem civilizada por parte de ambos os lados.

Infelizmente, na maioria dos casos, o contato se torna distante e embora falemos a mesma língua, nossas idéias se divergem. O outro lado se protege de um muro de vaidade enquanto as palavras são ditas e não respondidas ou questionadas criando alicerces de ódio e indignação muitas vezes confundida como trollagem por conseqüência o muro ou a parede se torna mais alto e inexpugnável e nossas palavras se tornam apenas bites de memória na rede mundial.

Será que poderemos mudar isso...

Não. Desculpe. O que quero dizer é:

Vamos mudar isso, por favor?

E de que adianta escrever isto? Ninguém vai ler mesmo...