terça-feira, 30 de março de 2010

Problemas da Criação #06



O Quadrinho brasileiro parte02

O Super-heroi brasileiro

Por Rogério DeSouza

Voltando ao assunto do quadrinho nacional, aquela discussão que falei, no inicio da coluna anterior, lembram? Pois bem, o tema em pauta era exatamente sobre o “super - herói brasileiro”.
Bom, vou ser suscito neste assunto. Eu acredito em super - heróis brasileiros, assim como acredito em super – herói japonês, Russo, Mexicano, Argentino (Não!! Esse deve ser vilão! Eheheheheh...) etc. O problema reside numa cultura depreciativa que vejo neste ponto:

Enquanto os Americanos acham que estão no melhor país do mundo, os brasileiros acham que estão no pior país do mundo. Nossa cultura supervaloriza nossa posição economicamente inferior diante de países de primeiro mundo.
Um exemplo é o caso de Marcos Cesar Pontes, o astronauta brasileiro. Quantas piadas referentes a isso já não ouvi? A idéia de um “astronauta brasileiro” é tão impensável quanto gato começar a latir, independente de qual seja a missão do cara na estação espacial. Será que podemos mudar este pensamento? Sinceramente, não sei.

Mas falando de super – heróis, o primeiro herói brasileiro ao qual tive contato foi o Capitão 7, quando tinha uns seis/sete (olha só!) anos. Era época de Natal, meu irmão mais velho ganhou uma fantasia de Homem – aranha e meu primo do Capitão America eu queria escolher a minha, foi quando vi na vitrine da loja aquela fantasia toda estilosa com detalhes legais com um escudo escrito “Capitão 7” .

Caramba! Esse sou eu!!

Mas nunca ouvira falar desse heroi antes, mais tarde soube que ele foi criado para um programa de TV infantil dos anos 50 na TV Record, interpretado pelo ator Ayres Campos. Então enchi o saco da minha mãe para me dar aquele uniforme... Puxa! O escudo de plástico do Capitão 7 enfeitou a porta do meu quarto por mais de dez anos.

Como você leu, eu nem sabia que ele era brasileiro e me perguntava o porquê de não vê-lo em bancas ou coisa parecida. Anos mais tarde acabei sabendo mais sobre este personagem e por conseqüência os problemas dos quadrinhos nacionais.
O que seria preciso para um herói brasileiro emplacar? É difícil dizer, isso cai no que falei anteriormente sobre qualidade do material publicado, muitos dos que criam heróis aqui muitas vezes pecam ou no roteiro ou na arte (senão nos dois) afastando os leitores mais exigentes.
Eu proponho algumas alternativas:

Nunca levante bandeiras de maneira agressiva, não jogue na cara de um sujeito, um leitor assíduo de Superman e Cia, que o personagem é brasileiro como se ele fosse obrigado a ler só porque foi feito em sua pátria. Não exagere no patriotismo, deixe o leitor curtir a história.

Tenha idéia de que se você faz um herói no Brasil leve em consideração a ambientação, principalmente se quiser fazer algo “realista” ou próximo disso. Se for assim considere um Brasil alternativo ou coloque a trama num futuro próximo, exponha isso ao leitor.

Não cometa os mesmos erros de fora. Tá certo que pegamos referencia dos quadrinhos americanos, mas também não precisamos desenhar como Rob Lifield ou escrever como Jeff Loeb (atualmente um roteirista muito criticado)...

O personagem não precisa ser um brasileiro ou morar no Brasil, é contraditório, mas o personagem Tex é um Ranger americano e foi criado por uma editora italiana fazendo sucesso por anos. Se você acha que o governo brasileiro não tenha capacidade financeira de construir ciborgues, fazer experiências, genéticas, nucleares, possuir agencias de espionagens ultra-secretas e qualquer outra coisa, ambiente a trama em outro país ou crie um.

Admita suas referencias, se você criou um personagem levemente parecido (não uma cópia) com o Batman, admita isso. Dá menos dor de cabeça com certeza, afinal qualquer vigilante mascarado que você faça vai ser cópia do Zorro assim como qualquer cara que voe e tenha super força tenha algo do Superman. Sátiras são bem vindas nesta questão.

Sei que muitos acreditam que na HQB não há espaço para esse tipo de gênero, tão comum nos quadrinhos o que me faz tanto questionar esta aversão. Creio que temos profissionais capacitados para investir em super-heróis Made in Brazil, basta apenas termos boas histórias e rendimentos.
Enquanto isso, os que ainda acreditam trabalham de forma independente, tentando ganhar seu espaço, fazem seus fanzines ou publicam na web como verdadeiros heróis, solitários, subestimados e até odiados, mas continuam na luta diária, mesmo apanhando pra cacete...

Abaixo coloco o link do blog do artista Lancelot que esta catalogando todos os herois brasileiros de todas as épocas. Uma boa iniciativa.

HQ quadrinhos


Voltaremos ao assunto de quadrinhos nacionais em outro momento. Até.

3 comentários:

  1. Excelente artigo. Acho que o 1° herói naciomal que ouvi ou li a respeito foi, justamente, o CAPITÃO 7. Deveria ter, como quase decretaram, mais espaço pra hqs nacionais e sem barrar mangás, fumettis, comics, manhwas, graphic novels... Isso mostraria que todo brasileiro pode ser muito mais eclético.

    ResponderExcluir
  2. Caro Rogério,

    que abordagem maravilhosa que voce fez sobre HQ, quadrinhos e ou comics... Realmente, esta é uma manifestação cultural, que recebe influências na criação, quer seja de outros arquétipos (comics americanos, por exemplo) mas, nem por isso desmerecedora de crédito e ou valor... Achou que não existe espaço para ufanismos mas realidades sem fronteiras, maduras para ambientar roteiros e personagens sem que seja nescessário apor "ordem e progresso" como sêlo de brasilidade... Realmente não cabe mais ações detratoras dos personagens que bebemos na nossa fonte de juventute vindo dos comics e nem cabe, também, o execesso parcial de que nossas criações do quadrinhos nacional... Temos particularidades criativas, temos espaço para todas as criações e temos leitores de todas as faixas... Crumb "detenou" o mundo com seu estilo "melado" e é, hoje, uma fonte de estudo social... Somos o primeiro país do mundo, quando os quadrinhos, eram caçados (lá no país dos comics), a promover uma exposição internacional para mostrar o valor da Arte Sequencial. Então, somos, por natureza e tradição apaixonados por quadrinhos. Com o meu blog - HQ Quadrinhos - já recebí vários depoimentos de americanos "boquiabertos" com nossa arte - Yes, nos temos bananas! Gostei de sua abordagem, madura, crítica, imparcial e positiva para uma reflexão por quem produz, ler e faz quadrinhos.
    Grato, pela sua citação, sobre meu trabalho.
    Lancelott.

    ResponderExcluir
  3. Mandou bem Rogério! Concordo com a sua opinão sobre o super-herói brasileiro e o quadrinho nacional. Também acho que esse é o caminho, porque pesssoas com talento é o que não falta no Brasil.

    ResponderExcluir