quinta-feira, 15 de julho de 2010

Problemas da Criação #12




A mecânica das grandes decepções.
Por Rogério DeSouza

Decepção é um sentimento comum, muitas vezes a gente espera uma coisa acontecer e não acontece. É universal...
Afinal, você já não ficou decepcionado com seu time que não vence, tipo a Seleção Brasileira nesta Copa? E seu namorado que a trocou por outra ou o governo que promete e não cumpre etc.
Na cultura pop não é diferente, em filmes, seriados e até em games, os consumidores se decepcionam com as coisas que tanto apreciavam cair gradativamente de qualidade com o passar do tempo.
Ouvi dizer que muito dessas decepções vem por causa da expectativa, um grande problema, pois muitos filmes e gibis vêm com trailers e previews que mostram parcelas de imagens que muitas vezes caem no gosto do público, mas no final quando vemos o produto por inteiro vemos que é muito abaixo do que fora exibido nas amostras. Coisas do marketing, Blade Runner sofreu com isso por muitos anos, não pelo filme ser ruim (o que não é!), mas foi vendido como um filme de ação. Na verdade é mais um filme de ficção cientifica filosófico, misturado com cinema “noir” de detetive dos anos 30. Decepcionou quem esperava um cara detonando replicantes para todo lado e só depois de anos conseguiu o reconhecimento do público.
O que me levou a esse texto foi o fim da série Lost, que depois de seis temporadas com muitos mistérios deixou seus fãs até certo ponto decepcionados. Eu não vi a última temporada ainda, então não posso dar uma opinião sobre ela. Mas isso é o reflexo de não trabalhar bem o desfecho de uma trama.
Todos nós sabemos que histórias têm começo, meio e fim. São elementos básicos de qualquer argumento. Se não souber aonde ir com a trama, ela não terá um fim satisfatório, se é que conseguem chegar a um fim.
Defendo a tese que em qualquer elaboração de história você tenha um fim em mente desde o começo, sem rodeios. O meio da trama pode até ser alterado, mas tem que chegar a aquele final.
Já disse em outras ocasiões que a publicidade em cima da trama muitas vezes pode comprometer a credibilidade da mesma se for mal empregada e a decepção é uma das conseqüências. Pode alçar vendas naquele momento, mas posteriormente seus trabalhos serão mal vistos pelo público.
Vou mostrar alguns exemplos:

Arquivo X, na trama temos a dupla de investigadores do FBI Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) designados a resolver casos sem solução que tenham teores sobrenaturais. Durante a série, houve uma trama maior envolvendo ligações entre o governo e alienígenas, sendo considerada a mitologia da série.
Foi um grande sucesso na década de noventa.
Quando falhou:
Segundo ouvi falar foi o fato da própria conspiração perder o seu foco nas últimas temporadas, também a saída do ator principal que começou a aparecer ocasionalmente na trama. O programa começou a cansar o espectador. Como resultado, o final foi mais um alívio do que uma grande despedida da série, muitos já até desistiram de assisti-la antes de seu final.

Smallville, é a história de Clark Kent um jovem que vive na cidade que da nome a série no Kansas. Na verdade o rapaz é o ultimo sobrevivente do planeta Kripton e veio a Terra ainda bebê numa nave durante uma chuva de meteoros. O sucesso veio do fato que esta é uma versão da origem do Superman e a história se passa antes do jovem herói assumir esta identidade, a série trouxe de volta alguns conceitos da “era de prata” do herói como as Kriptonitas coloridas e a amizade com seu futuro antagonista Lex Luthor.
Quando falhou:
Ta sei que a série ainda faz certo grau de sucesso, mas decepcionou muitos fãs inclusive a mim. Chegou a um ponto que a trama tomou um rumo diferente do que se pode chamar de origem do Superman, acrescentando elementos incoerentes a sua história. Personagens que literalmente não deveriam estar nesta fase da vida do herói são colocados para chamar a atenção. O pior foi quebrar a tríade da série que se baseava em Clark Kent, Lex Luthor e Lana Lang, os dois últimos atores saíram da série e o personagem principal, saiu da cidade de Smallville o que deixa o nome da série sem propósito. Sem falar de coisas relacionadas a tramas fracas e interpretação abaixo do esperado de seu elenco como os críticos da série relatam.

Como se vê acima, não é necessário ser um fracasso para decepcionar.

E de que maneira podemos fazer para não decepcionar o fã ou espectador ocasional? A meu ver, deve haver um jogo de cintura, pois cada indivíduo que tenha o costume de ler ou assistir series em geral, tem sua própria visão da coisa. Daí, voltamos ao “monstro” da expectativa. Não basta dar ao público o que ele quer e sim fazer uma boa história, coerente com o que se fez em toda a trama (Isto é, tirando qualquer coisa feita pelo Monty Python e assemelhados). Eu sempre que posso releio tudo que fiz na história para não criar algum furo que possa comprometer sua conclusão.
Grandes filmes e seriados têm dificuldades neste quesito pelo motivo de haver muitas pessoas envolvidas com visões dispersas sobre a mesma. As grandes sagas dos quadrinhos americanos isto é evidente nos “time ins” ou histórias paralelas a saga principal.
Vendo a situação neste ponto, creio que o melhor é derrubar o monstro da expectativa, não prometendo absolutamente nada e se comedindo nos previews.

Embora eu não queira, com certeza irei decepcionar muitas pessoas...

Um comentário:

  1. Os trailers de filmes podem mesmo ser tremendos "pega-trouxas", com toneladas de cenas engraçadas, legais, como certos besteirois. Ou simplesmente resumir a trama que nem BATMAN BEGINS (que ficou legal, mesmo assim) ou A CENTOPÉIA HUMANA (só um masoquista pra ver um terror conhecendo seu final).

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