segunda-feira, 21 de junho de 2010

Problemas da Criação #11



Quadrinho nacional parte04


Heróis da resistência
Por Rogério DeSouza

Há um pouco mais de dois anos , criei este blog onde coloco minhas tiras e histórias em geral periodicamente.

O que ganhei com isso?
Pessoalmente acho que ganhei um meio de continuar produzindo histórias, falar um pouco de tudo e expor meu trabalho para todo mundo.

Mas financeiramente não ganho literalmente nada.

Daí vão me questionar:

Por que não enviei meus personagens para alguma editora publicar?
Bem, pelo simples fato de que apesar de possuir material próprio, não tenho o suficiente para lançar algo com qualidade para ser publicável em bancas ou livrarias no momento. E claro que, somam-se a isso problemas pessoais e estratégicos aos quais espero contornar. Tenho um emprego sim, seguro e remunerado, graças a Deus e faço de tudo para que isso não interfira nos meus desenhos.

Por não ganhar basicamente nada pelas minhas criações vocês devem se indagar o porquê de continuar. Quando a satisfação de meus desenhos e histórias vai acabar numa obrigação e em seguida resolva acabar com meu blog?

É cedo para dizer isso. Espero que isto nunca aconteça comigo e a outros amigos.

Já falei várias vezes aqui que é difícil viver de quadrinhos no Brasil. Mas há artistas que resistem de um modo ou de outro fazendo fanzines ou publicando na web.

Os fanzines são uma maneira de expor seu trabalho para mais pessoas (além de sua mãe, Ehehehe...) você pode vendê-lo para as pessoas através de correspondência, como fez Renato Guedes com seu Almanaque Meteoro ou se você for amigo do dono da banca da esquina, poderá colocá-lo lá também. Geralmente, para fazer suas tiragens, o fanzineiro recorre a gráficas expressas (ou Xerox), mas é possível dependendo da tiragem, fazer seu fanzine numa grande gráfica o que pode garantir qualidade do material.
Fazer acordo de publicidade com a gráfica ou ter patrocínio é uma boa maneira para baratear os custos.

Tenho o conhecimento de muitos artistas iniciantes que fazem fanzines de boa qualidade gráfica, como é o caso do Estúdio Teatro de Nanquim que fez dois números belíssimos do Alexandria. Sem falar de outros como Vrill de Marcio Cabreira, Raffe de Daniel Dias, 25 de Julho de Diego Moreira, Jeferson Cardoso e outros.
Um dos mais antigos que conheço é o Quadrante Sul, que desde o ano passado lançou seu quarto número depois de 20 anos.


Claro que esses que eu citei não são muito reconhecidos pelo grande público, mas eles continuam na labuta, a duras penas, mas continuam.
Iniciativas como as do Quarto Mundo, uma cooperativa de artistas independentes (já citados aqui aliás) é um notável exemplo a dedicação ao trabalho autoral que criou um método alternativo para distribuição destes trabalhos pelo país. Fora ela, a Júpiter 2, tem ajudado com demais artistas obscuros.

Pela internet a coisa é mais expressiva, principalmente com as webcomics. A tecnologia desse meio permite maior exposição ao público em geral. São muitos blogs e sites aos quais inúmeros artistas colocam sua cara a tapa para uma parcela de pessoas muito maior.

Tenho acompanhado trabalho do pessoal do site HQ nado que periodicamente publica HQs virtuais. Abriga histórias tanto de heróis e outras com leve estilo manga.
Cartunistas são bem comuns nesta área, já que a produção de uma tira é mais rápida em matéria de estrutura.
Temos quadrinhos tipo Homem Grilo (Cadu Simões), Magias & Barbaridades (Fabio Ciccone), Espedito (Ricardo Jaime), Fandangos Suicida (Guilherme Bandeira), Mundico (Takren), Nem Morto (Leo Finocchi e Bart Rabelo), Levados da Breca (Wesley Samp) e muitos outros.
Algumas vezes, esses artistas se juntam para fazer brincadeiras entre os blogs tipo este último da Copa do Mundo em que participei.

Em suma, nós não estamos ficando ricos ou famosos, mas pelo menos não paramos. Podemos não ser muito bons em desenho ou roteiro, mas estamos ai, apesar de tudo.

Você que esta iniciando na arte de fazer histórias, digo que não sou do tipo mais apto a dar conselhos, mas darei.

Se você tem uma história com começo, meio e fim pronta, publique.
Se criticarem negativamente seu trabalho, respire fundo. Não seja arrogante, reveja o que fez e continue.
Se você não sabe desenhar e quer fazer gibis, escreva. Se não achar um desenhista, faça um livro. É literatura, mas é um começo.
Se você só sabe desenhar, desenhe. Tenha um portifólio ou galeria.
Se tiver problemas financeiros, domésticos, etc... Espere passar, mas não pare.
Leia, faça cursos, pratique, seja critico com você mesmo, ouça profissionais, mas nunca pare.

O mais importante de tudo é não parar nunca. (Cara... Como sou redundante... Desculpem...).

Digo isso tudo, pois lamento ver pessoas mais cultas, determinadas e talentosas do que eu largarem tudo assim. Como criaremos um cenário para podermos trabalhar em quadrinhos no Brasil se não respeitamos nosso trabalho e o trabalho alheio? Como conseguiremos nosso espaço se achamos tudo ruim e não educamos para melhorar? Como poderemos nos desenvolver como quadrinistas se não tentarmos?

Pois é, fica a questão.

4 comentários:

  1. Fala, mestre!

    Fiquei feliz por citar no post o Fandangos, você tem razão em tudo que disse, mas só discordo de uma coisa: você manda bem pra cacete! Tanto no desenho, quanto no roteiro...o que importa é sempre trabalhar...rs...continue assim.

    Grande abraço!

    Guilherme Bandeira
    www.fandangossuicida.com.br
    www.olhaquemaneiro.com.br

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  2. Excelente texto Rogério, resume muito bem o sentimento de quem produz de forma independente. O importante é não desistir e não se acomodar, acreditar no seu trabalho e melhorar a cada crítica. O sucesso é consequência. Ah, e obrigado pela citação! Significa bastante vindo de um fanzineiro "profissional" como tu! Abraço

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  3. Já devo ter falado contigo que quase parei com meu zine há alguns anos? Não?
    Agora, vejo que, se tivesse desistido, seria uma asneira das mais escrotas e não participaria dos eventos com o pessoal, por diversão e por divulgação de trabalhos próprios, neste país dominados por hipócritas ignorantes metidos a marqueteiros.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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